terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O JOGO...A BOLA...

Num jogo de futebol, os jogadores exercem forças na bola que se detectam pelos seus efeitos, como deformação da bola, modificação do seu estado de repouso ou de movimento e variação da velocidade. Diz-se, então, que uma força é toda a acção capaz de modificar o estado de movimento de um corpo ou de lhe causar deformação. As forças traduzem a interacção entre os corpos e podem ser exercidas por contacto ou à distância. Quando o jogador dá um pontapé na bola, fazendo com que ela mude de direcção, aplica-lhe uma força de contacto, ou seja, há uma interacção entre o pé e a bola. Aqui, há a considerar duas forças iguais e opostas que constituem um par acção-reacção. Isto significa que as forças actuam sempre aos pares, ou seja, à acção do jogador sobre a bola corresponde sempre uma reacção igual e oposta que a bola exerce no jogador.
Qualquer corpo oferece uma resistência à alteração do seu estado de repouso ou de movimento que se designa por inércia. Esta será tanto maior quanto maior for a massa do corpo. Assim, se chutarmos uma bola de futebol e uma pedra do mesmo tamanho com igual força, a bola irá atingir uma dada velocidade, enquanto a pedra pouco ou nada se moverá do seu lugar. Embora as forças exercidas sejam iguais, os seus efeitos são diferentes, porque a massa da pedra é maior do que a bola. A pedra resiste mais à alteração do estado de repouso, logo a sua inércia é maior, enquanto que a inércia da bola é muito baixa.
Quando se chuta uma bola, ela adquire uma dada velocidade. Então, porque será que a bola pára ao fim de algum tempo? A bola vai diminuindo lentamente a sua velocidade até parar devido ao atrito entre a bola e o chão. O atrito é uma força que se opõe ao movimento da bola devido à interacção desta com uma superfície. Quanto mais rugosas forem as superfícies em contacto, maiores serão as forças de atrito. Se não existisse atrito, a bola mover-se-ia em linha recta com velocidade constante e não parava. As chuteiras dos jogadores têm pitões para aderirem bem à relva, que é uma superfície irregular. A rugosidade e a natureza da borracha permitem aumentar o atrito, tornando o movimento dos jogadores mais seguro. Quando andamos ou corremos é a força de atrito que nos empurra. Para nos deslocarmos, os sapatos exercem no solo uma força para trás. A força de atrito, que se opõe a este movimento, empurra-nos para a frente. Quando as solas dos sapatos são muito lisas e o pavimento é polido a força exercida pelo sapato para trás não faz surgir qualquer atrito e… escorregamos!
Uma bola em movimento no ar está sujeita a forças aerodinâmicas causadas pela pressão e viscosidade do meio, como a força de arrasto e a força de sustentação. A força de arrasto é a resistência que o ar oferece à passagem da bola, porém, ao contrário do atrito entre duas superfícies sólidas, a força de arrasto não é constante – ela depende da velocidade com que a bola se move em relação ao ar. A “crise do arrasto” é a súbita redução que a resistência do ar sofre quando a velocidade da bola aumenta além de um certo limite. A velocidade máxima que jogadores profissionais conseguem dar à bola é da ordem de 25 a 30 m/s, podendo atingir os 35 m/s. Portanto, a bola de futebol ultrapassa a velocidade de crise muitas vezes durante uma partida.
Por outro lado, devido às propriedades da força de arrasto, uma bola rugosa oferece menos resistência ao ar do que uma bola lisa. Este fenómeno pode parecer estranho, mas é o que realmente acontece. A rugosidade da bola diminui a resistência do ar, a altas velocidades. Por isso é que as bolas de golfe possuem orifícios – assim atingem distâncias maiores. Algumas bolas de futebol modernas inspiraram-se na de golfe, apresentando os mesmos orifícios característicos.
A força de sustentação surge quando a bola gira em torno do seu centro, produzindo o chamado efeito Magnus. Este manifesta-se quando um jogador chuta a bola e, dependendo de onde ocorre o contacto do pé com a bola, é possível imprimir-lhe uma rotação capaz de alterar a sua trajectória rectilínea. Ao girar sobre o seu próprio eixo a superfície da bola sofre o atrito do ar. Isto influi na velocidade com que o ar passa em seu redor – na parte superior da bola, o ar é mais rápido; na inferior, mais lento. Devido a esta diferença de velocidade, ocorre uma diferença de pressão entre a parte de cima e a de baixo. A diferença de pressão faz com que a bola se desvie da sua trajectória normal, produzindo o efeito Magnus. A sua intensidade e influência na trajectória da bola dependem de vários factores. A superfície áspera da bola e a grande velocidade de rotação, em relação à velocidade de voo, aumentam o efeito. Já a influência na trajectória manifesta-se, principalmente, nas bolas mais leves. Em linguagem comum, diz-se que o jogador chutou com “efeito”. Alguns dos golos mais famosos de Pelé e Maradona resultaram de magníficas jogadas com “efeito”, também a trivela do Quaresma
Apesar do seu potencial, existe pouca informação sobre o assunto e, por incrível que pareça, o futebol ainda não é utilizado, nas escolas, como uma estratégia para fazer passar determinados conceitos da Física. Para quem quer compreender as leis do movimento, estudar Física através do futebol é, certamente, uma das formas mais aliciantes de o fazer, pelo que espero ter contribuído para despertar os mais curiosos.